terça-feira, 31 de agosto de 2010

100 Anos do Clube Mais Brasileiro

“Corinthians grande,

Sempre Altaneiro
És do Brasil
O clube mais brasileiro.”



Hoje meu time faz 100 anos de história.

Falem o que quiserem os que não gostam de futebol, mas torcer é uma delícia e torcer pelo Corinthians é ainda melhor!

Torcer é um bom exercício para aprender a enfrentar vitórias e derrotas, abrir mão de certezas, confiar, se identificar com outras pessoas, compartilhar algo em comum, dar a volta por cima.

Claro, isso tudo de uma forma “normal”, meu time não é a minha vida, mas é uma parte bem gostosa dela! Principalmente no que se refere a minha família, já que somos na maioria corinthianos, entre primos e tios.

Aqui em casa para sempre vamos ouvir minha mãe contando novamente sobre certa vez, após uma derrota do Corinthians, meu irmão ter vindo até ela chorando e dizendo: “Mãe, por que é que eu tinha que nascer corinthiano?”

É gostosa a sensação de não apenas torcer de vez em quando, mas ser torcedor, sentir-se parte de algo maior.

Cantamos no hino que somos o clube mais brasileiro e que bom seria se o Brasil fosse um país mais corinthiano! Explico:

Quando se fala sobre o elemento humano do Estado nas aulas de Ciência Política, mencionando o conceito de nação, tratamos de um conceito que é emocional, afetivo. É o elemento humano, assim, deve ser o elemento que dá vida ao Estado. Ser nacional trata-se de ter um sentimento de pertença, identificar-se com um grupo, partilhar dos mesmos valores, tradições, costumes. Também é reconhecer o que é que torna o grupo diferente de outros grupos e querer manter justamente as características que nos tornam diferentes dos demais. Digam o que disserem, critiquem o quanto criticarem, perdendo ou ganhando, continuo fazendo parte dessa nação (1).

É o que faz alguém, no meio de um estádio, vendo o time enfrentando um momento ruim, gritar a quem quiser ouvir: “Eu nunca vou te abandonar, porque eu sou louco, louco por ti Corinthians!”

Quanto mais um Estado se confunde realmente com uma Nação, mais forte ele é. Até sem território ele poderia continuar firme, desde que seja uma nação. Quando o povo constitui verdadeiramente uma Nação, torna-se o principal defensor do Estado, dá a vida por ele, não admite que seu Estado seja menosprezado, mesmo com todos os defeitos que ele mesmo possa reconhecer. Sim, sem dúvida, fazer parte da nação não significa não enxergar suas deficiências, ao contrário, leva o torcedor (ops) o cidadão às portas da diretoria, gritando aquilo em que acredita, exigindo mudanças, interferindo nos rumos.

É o que faz a Fiel. Acompanha, fiscaliza, cobra, e também exagera, como todo apaixonado faz! Assim é que se diz que o Corinthians não é um time que tem uma torcida, é uma torcida que tem um time. Gostem os diretores, técnicos e jogadores ou não, o corinthiano não perde um lance, não tira os olhos, não fica quieto.

Por isso tudo é que quando tento explicar o sentimento nacional, o mais fácil é falar aos alunos sobre a nação corinthiana (momento em que logo ganho simpatizantes e opositores!).

E é por isso tudo que digo que seria bom se, além de ter no Brasil o clube mais brasileiro, tivéssemos também o país mais Corinthiano!

(1) “[...] um grupo humano no qual os indivíduos se sentem mutuamente unidos, por laços tanto materiais como espirituais, bem como conscientes daquilo que os distingue dos indivíduos componentes de outros grupos nacionais.” HAURIOU, Maurice apud BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 10 ed. São Paulo: Malheiros, 2004. p. 79.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Antes morrer que perder a vida!

A morte sem dúvida é um assunto que não agrada. Normalmente ficamos um pouco constrangidos ao falar no assunto ou adotamos uma postura de pesar.

Perder alguém nunca será uma experiência fácil de se enfrentar, seja pela morte ou até mesmo pelo fim de um relacionamento, mas por isso mesmo pode ser das experiências que mais fazem crescer. Portanto, ao tomar conhecimento de alguma triste notícia de morte, o melhor que temos a fazer é pensar na vida.

Acredito veementemente que a morte só acontece para os que ficam vivos. Essa sua maior função, ensinar algo aos que ficam. Afinal de contas, não é nunca à toa que rezo que creio na vida eterna.

Acontece que para Deus um dia é como mil anos e mil anos são como um dia, e por mais dolorido que seja aceitar isso na carne, é um fato: tivemos com a pessoa o tempo que deveríamos ter, mas isso não significa que não tenhamos mais a pessoa. Por isso é até meio inadequado dizer que se "perdeu" alguém. Quem tem fé sabe muito bem a quem entrega seus entes queridos, nunca os perde.

É lugar comum, mas deveríamos ter mais medo da vida mal vivida do que da morte.

Há tantos andando por aí que já morreram faz tempo e nem o sabem! Disso sim eu tenho medo. Vivem só para si, para seu dinheiro, seu prazer, seu status, sua beleza... Correm muito, sem tempo para nada, eternamente cansados. Tomam um remédio para dormir e outro para acordar. Convidadas, por exemplo, para um retiro, recusam porque têm muito trabalho a fazer. Não pensam duas vezes em passar por cima de seus valores, sua família ou amigos, para atingir objetivos materiais, momentâneos e passageiros. Cuidam tanto da vida que passa, que esquecem de construir a vida que não passa... A loucura vai fingindo que isso tudo é normal até chegar ao ponto em que o corpo realmente pede um pouco mais de alma. E será que teremos tempo para dar alma a nosso corpo? (1)

Por outro lado, uma vida vivida perante a vontade divina e sendo multiplicada na vida de outras pessoas, nos torna imortais!

Como nos diz meu querido São Paulo Apóstolo:
"O que nos resta dizer? Se Deus está a nosso favor, quem estará contra nós? Quem poderá nos separar do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? Mas em todas essas coisas somos mais do que vencedores por meio daquele que nos amou. Estou convencido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes nem as forças das alturas ou das profundidades, nem qualquer outra criatura, nada nos poderá separar do amor de Deus manifestado em Jesus Cristo, nosso Senhor." (1)
"Morte, onde está a tua vitória? Morte, onde está o seu ferrão?" (2)

São certezas que precisam ser reafirmadas a cada conversa, a cada ato, a cada decisão. Afinal, "com efeito, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, se perde a própria vida?" (4)

(1) Lenine. Paciência
(2) Romanos 8, 31-39
(3) I Coríntios 15, 55
(4) Evangelho de São Marcos 8, 36

sábado, 28 de agosto de 2010

Mater Semper Certa?

MATER SEMPER CERTA?


Em busca de entender a sociedade e o Estado em que vivemos, é interessante pensar sobre a origem de tudo isso. Não raras vezes percebemos que em alguns aspectos parecemos hoje estar regredindo a algumas características primitivas.

A partir de nossas características atuais (afinal, um grupo de seres humanos talvez tenha sido sempre um grupo de seres humanos), tentamos imaginar como teriam se organizado as primeiras tribos, clãs, etc.

Há então várias teorias possíveis, todas elas tratando da submissão de um indivíduo a outro ou de um grupo a outro grupo. São vários os fatores que podem ter levado a essa submissão, relações econômicas, religiosas, violentas, racionais e também familiares.

Dentro da Teoria da Origem Familiar há duas correntes possíveis: origem patriarcal e origem matriarcal.

De acordo com a Teoria Matriarcal “a primeira organização familiar teria sido baseada na autoridade da mãe. De uma primitiva convivência em estado de completa promiscuidade, teria surgido a família matrilínea, naturalmente, por razões de natureza fisiológica – mater semper certa. Assim, como era geralmente incerta a paternidade, teria sido a mãe a dirigente e autoridade suprema das primitivas famílias, de maneira que o clã matronímico, sendo a mais antiga forma de organização familiar, seria o fundamento da sociedade civil” (1)

Pensamos então em grupos nômades, que permaneceriam em determinado local enquanto ali obtivessem os recursos necessários para a sobrevivência. Esgotados os recursos, parte-se para um novo destino.

Os homens certamente eram os caçadores, periodicamente deixavam o grupo para se aventurar em busca de alimento. Nem sempre tinham êxito, nem sempre sobreviviam, de forma que os vínculos entre as pessoas eram extremamente frágeis, sem noções de família, monogamia e fidelidade. Logo, como as vidas dos homens eram muito instáveis, apenas mater semper certa, ou seja, só havia certeza quanto a quem eram as mães.

À medida em que fomos nos tornando sedentários, fixando uma sede para nossas vidas, a autoridade vai se tornando masculina, talvez em razão dos homens oferecerem melhor proteção contra os perigos.

Caminhou então a história, para períodos de total submissão feminina, com mulheres vistas como patrimônio de seus pais e maridos, até passarmos pela busca de direitos, notadamente a igualdade. Chegamos ao presente com mulheres obtendo grandes espaços e cargos relevantes, muitas até se masculinizando nesse intuito, enquanto outras ainda se submetem à violência doméstica e à dependência econômica de um companheiro ou de companheiros que se sucedem...

Tenho às vezes a sensação de que novamente nos encontramos na época dos nômades e dos pais incertos.

Estamos ficando cada vez mais sem raízes. Voltamos a ser nômades, vagando de emprego em emprego, cidade em cidade, buscando melhores recursos, procurando obter os meios para uma existência mais confortável. Já não ouvimos mais as histórias daquele funcionário que iniciou e terminou a vida profissional dentro da mesma empresa. Quanto maiores as cidades, mais difícil o relato de vizinhos que acompanharam a vida toda uns dos outros, vendo os filhos crescendo juntos, tornando-se quase mais próximos do que familiares. Antigamente os vizinhos cuidavam da nossa casa quando viajávamos... hoje preferimos que eles nem fiquem sabendo que deixamos a casa sozinha!

Não sabemos muito bem quem são as pessoas ao nosso redor. Estamos próximos, mas muito distantes.

A maior facilidade de transportes e comunicação nos aproximou de muitas oportunidades, nos permitiu voar ou flutuar em nuvens de informações, mas é preciso ter cuidado para não transferir isso as nossas relações, permanecendo nelas também apenas enquanto nelas obtemos os recursos necessários para que nossa existência seja mais agradável, mantendo vínculos que são apenas eternos enquanto duram (2).

Hoje, como outrora, quantos pais não são também desconhecidos de seus filhos?

Usufrui-se de uma relação enquanto prazerosa, retirando do outro o que ele tem a me oferecer, e, esgotada a novidade, abandona-se, pega-se a estrada, em busca de novos prazeres. Muitas crianças são deixadas ao longo desse caminho, com pouquíssimas certezas. Pais ausentes nas certidões e nas vidas de seus filhos. Talvez ainda remanesça a certeza da mãe, quando essa tiver condições de ser verdadeiramente mãe. É possível ainda imaginar, que com o progresso da tecnologia e retrocesso das convicções morais, logo nem sobre as mães teremos qualquer certeza...

Será a família ainda a celula mater da sociedade? Não cabe a nós apenas responder, mas agir para garantir que assim o seja.

E por aí vamos, soltos, sem raízes, sem história. Solidões que convivem, conforme bem comenta Contardo Calligaris em seus “tuites” sobre a solidão urbana(3). Se sei quem sou a partir do que me mostra o outro... não sei de mais nada!

Fica a pergunta da música: Isso lá é bom? (4)

(1) MALUF, Sahid. Teoria geral do estado. 28 ed. São Paulo, Saraiva: 2008. p. 63

(2) “Que não seja imortal, posto que é chama
      Mas que seja infinito enquanto dure.” MORAES, Vinicius de. Antologia Poética. Editora do Autor, Rio de Janeiro: 1960. p. 96.

(3) (@ccalligaris)

(4) “Ah Solidão. Foge que eu te encontro, que eu já tenho asas... Isso lá é bom? Doce solidão...” Marcelo Camelo - Sou

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Nos ombros de quem temos subido?

Ontem à noite as aulas de Ciência Política e Teoria Geral do Estado foram daquelas que considero ideais: a maioria já tinha ao menos dado uma passada de olhos nos textos sugeridos, fizemos uma roda e a partir de algumas perguntas propostas foi construída a conversa.

Falávamos de Thomas Hobbes(1) e John Locke(2), suas idéias contratualistas, visão das funções do Estado e da existência de direitos inerentes aos seres humanos.

O primeiro, mais pessimista em relação ao ser humano, afirmando a celebração do contrato em razão de nossa desconfiança mútua. O segundo nos é mais favorável, verificando no contrato a função de garantir direitos que já são nossos por natureza. O Estado chega para nos proteger de nós mesmos!

Vemos também a importância de se destacar o Estado como fruto da vontade humana e não apenas mera expressão de instinto de sobrevivência. Tal conclusão resgata a dignidade do ser humano e de cada indivíduo, asseverando-se que o Estado foi criado para promover o ser humano e qualquer proposta ofensiva a mesma liberdade que criou o Estado, retira dele a sua legitimidade. Criamos o Estado não apenas para preservar nossas vidas, mas também para preservar outros tantos valores que dão sentido a esta mesma vida.

É fascinante observar pessoas tomando contato com obras e autores anteriormente desconhecidos e sendo por eles conduzidos também a idéias que nunca lhes tinham passado pela cabeça. Alguém de repente diz: "o homem é o lobo do homem e então resolveu inventar o Estado... só trocaram de lobo então!" Outro afirma: "sempre pensei algo parecido, mas não sabia fundamentar".

Comentamos no início da conversa sobre a importância de ler os clássicos, lembrando Italo Calvino (3) e a afirmação de que clássicas são as obras que nunca terminam de nos dizer o que têm a dizer. Conversar com os autores de obras assim é ingressar no grande diálogo universal, subir nos ombros de gigantes(4) e talvez assim obter uma melhor visão do mundo e da vida.

Ao final da conversa foi exatamente o que todos percebemos, sentimos subir o nível do debate. Gradualmente do Leviatã e do Segundo Tratado sobre o Governo Civil, chegamos às eleições 2010, nos perguntando: Será que os candidatos sabem para que serve o Estado? Será que temos alguma noção dos valores que defendemos quando escolhemos uma ou outra proposta? Que Estado queremos? Precisamos de um pai, de um provedor, de um guardião...?

Muitos se dão conta de que nunca refletiram sobre suas escolhas dessa forma e que quando propõe tal reflexão não encontram acolhida entre a maioria de seus familiares e amigos.

Com uma leitura superficial de dois autores e a breve troca de idéias entre a turma, sem grande esforço já estávamos enxergando mais além do que muitos outros e daí nos vem a responsabilidade em comunicar a todos a visão que temos aqui um pouco mais do alto...

(1) HOBBES, Thomas. Leviatã: ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e cicil. Tradução de Alex MARINS. São Paulo: Martin Claret, 2004.
(2) LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. Tradução de Alex MARTINS. São Paulo: Martin Claret, 2004.
(3) CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. Tradução de Nilson MOULIN. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

(4) "Se eu vi mais longe, foi por estar de pé sobre ombros de gigantes". Isaac Newton

Tamagotchi

Saudações!
Aqui vou eu iniciando um novo blog. Não dei atenção suficiente à tentativa anterior... acho que por isso definhou e morreu! Não pretendo ser assim com meu novo "bichinho virtual".
O blog se destina principalmente a meus alunos, para quem postarei alguns roteiros de aulas e informações que julgue interessantes para esclarecer os conteúdos ministrados. Mas dessa vez não farei só isso, porque sou mais.
Daí o nome do blog "das minhas cores".
Felizmente tenho uma vida cheia de cores, vários fatores que tornam meus dias decolores (pelo menos na maior parte do tempo). Tenho comigo uma palheta de cores muito variadas, entre elas estão meus pais e toda a minha família, minha fé em Deus e minha religião Católica, praticada principalmente no Movimento de Cursilhos de Cristandade. Há ainda os amigos, os da vida inteira, os do Cursilho, os do trabalho e cada um também me entrega suas cores. Para profissão escolhi o Direito, e no Direito há algum tempo a carreira acadêmica, com alguns dias cinzentos e outros multicoloridos.
Assim vou levando, tentando dar sentido a todas as cores que são a minha vida. Nunca aprendi a desenhar bem, talvez nem sempre eu saiba dosar e combinar adequadamente os tons, mas não abro mão de qualquer um deles, porque fazem parte do meu todo, da integridade com que procuro me conduzir, sendo eu, inteira, entre todos, a todo momento e em qualquer lugar.
Por isso é que agora o blog incluirá além dos textos dirigididos aos acadêmicos, também meus devaneios, minhas convicções, minhas preferências, alegrias e decepções. Alguém lerá e não sei se aproveitará, mas a mim fará bem escrever!