Ontem à noite as aulas de Ciência Política e Teoria Geral do Estado foram daquelas que considero ideais: a maioria já tinha ao menos dado uma passada de olhos nos textos sugeridos, fizemos uma roda e a partir de algumas perguntas propostas foi construída a conversa.
Falávamos de Thomas Hobbes(1) e John Locke(2), suas idéias contratualistas, visão das funções do Estado e da existência de direitos inerentes aos seres humanos.
O primeiro, mais pessimista em relação ao ser humano, afirmando a celebração do contrato em razão de nossa desconfiança mútua. O segundo nos é mais favorável, verificando no contrato a função de garantir direitos que já são nossos por natureza. O Estado chega para nos proteger de nós mesmos!
Vemos também a importância de se destacar o Estado como fruto da vontade humana e não apenas mera expressão de instinto de sobrevivência. Tal conclusão resgata a dignidade do ser humano e de cada indivíduo, asseverando-se que o Estado foi criado para promover o ser humano e qualquer proposta ofensiva a mesma liberdade que criou o Estado, retira dele a sua legitimidade. Criamos o Estado não apenas para preservar nossas vidas, mas também para preservar outros tantos valores que dão sentido a esta mesma vida.
É fascinante observar pessoas tomando contato com obras e autores anteriormente desconhecidos e sendo por eles conduzidos também a idéias que nunca lhes tinham passado pela cabeça. Alguém de repente diz: "o homem é o lobo do homem e então resolveu inventar o Estado... só trocaram de lobo então!" Outro afirma: "sempre pensei algo parecido, mas não sabia fundamentar".
Comentamos no início da conversa sobre a importância de ler os clássicos, lembrando Italo Calvino (3) e a afirmação de que clássicas são as obras que nunca terminam de nos dizer o que têm a dizer. Conversar com os autores de obras assim é ingressar no grande diálogo universal, subir nos ombros de gigantes(4) e talvez assim obter uma melhor visão do mundo e da vida.
Ao final da conversa foi exatamente o que todos percebemos, sentimos subir o nível do debate. Gradualmente do Leviatã e do Segundo Tratado sobre o Governo Civil, chegamos às eleições 2010, nos perguntando: Será que os candidatos sabem para que serve o Estado? Será que temos alguma noção dos valores que defendemos quando escolhemos uma ou outra proposta? Que Estado queremos? Precisamos de um pai, de um provedor, de um guardião...?
Muitos se dão conta de que nunca refletiram sobre suas escolhas dessa forma e que quando propõe tal reflexão não encontram acolhida entre a maioria de seus familiares e amigos.
Com uma leitura superficial de dois autores e a breve troca de idéias entre a turma, sem grande esforço já estávamos enxergando mais além do que muitos outros e daí nos vem a responsabilidade em comunicar a todos a visão que temos aqui um pouco mais do alto...
(1) HOBBES, Thomas. Leviatã: ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e cicil. Tradução de Alex MARINS. São Paulo: Martin Claret, 2004.
(2) LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. Tradução de Alex MARTINS. São Paulo: Martin Claret, 2004.
(3) CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. Tradução de Nilson MOULIN. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
(4) "Se eu vi mais longe, foi por estar de pé sobre ombros de gigantes". Isaac Newton
Professora, apreciei o texto relacionado à nossa discliplina em Ciência Política e TGE no 1° período de Direito.
ResponderExcluirSua leitura aqui no blog foi como uma revisão daquela própria aula, de uma forma leve e prazerosa.
Estarei atento aos seus textos e comentários neste espaço.
Hélio Oliveira