Entre as muitas histórias contadas por Jesus está a Parábola do Bom Samaritano. Jesus a contou em resposta ao questionamento de um “mestre da lei” (que talvez estivesse mais interessado em ser liberado por Jesus do dever do amor em relação a alguém do que realmente em saber quem é o próximo). Na parábola Jesus mostra que é nosso próximo qualquer pessoa a quem possamos de alguma maneira colaborar, contando sobre o samaritano que, vendo um homem caído no meio do seu caminho, sente compaixão, cuida de suas feridas, o transporta em seu próprio animal e arca com os custos de sua hospedagem em uma pensão. O detalhe é que antes do samaritano, um sacerdote e um levita já haviam se deparado com o homem caído mas seguiram adiante, “pelo outro lado”.
A história nos leva a pensar sobre o
levita e o sacerdote, cumpridores de seus deveres religiosos mas que não
quiseram tocar um doente para não se tornarem impuros, enquanto o samaritano,
originário de um povo que não era bem visto pelos judeus, se aproxima da pessoa
necessitada e o ajuda, com suas próprias mãos e seus próprios recursos.
É interessante observar que ele
reconhece a necessidade do outro e prossegue em sua viagem. Podemos pensar que
esse homem tinha também outros deveres, compromissos, precisava cuidar também
da sua vida, não poderia largar tudo para cuidar do homem caído na estrada, mas
fez o que suas condições permitiam e seguiu. Assim também deveríamos ser todos
nós, mantendo atenção às necessidades dos que estão ao nosso redor mas ao mesmo
tempo seguindo nossos trabalhos, cuidando de nossas famílias, não esquecendo de
nossas próprias necessidades, ajudando e vivendo, dentro de uma normalidade, sendo
quem somos, não sendo necessários grandes gestos de abandono de qualquer
interesse pessoal a favor do outro, mas integrando o outro aos nossos
interesses (“ao teu próximo como a ti
mesmo”). Ou seja, não é necessário abandonar a própria viagem, mas também
não podemos seguir “pelo outro lado”.
Ouvindo a história surge a
curiosidade sobre a volta do samaritano à pensão. Como foi recebido pelo homem a
quem ajudou? Será que agora recuperado ele seria grato? Será que ele se
apressaria em retribuir ou pagar ao samaritano pelos gastos que teve? Talvez se
propusesse a acompanhar o samaritano a partir de então, para também ajudar
outras pessoas com necessidades? Por outro lado, talvez fosse mal recebido,
quem sabe o homem ajudado fosse também alguém preconceituoso que preferia não
ter contato com um samaritano? Talvez recriminasse o seu benfeitor dizendo que
queria morrer e que deveria ter sido deixado no caminho para isso? É possível
que no retorno do samaritano o homem até já tivesse ido embora da pensão, não
tendo sequer aguardado para dizer um muito obrigado e retornando ao mesmo
caminho e perigos que o deixaram entre a vida e a morte anteriormente...
Não sabemos, Jesus não continuou a
história e não continuou simplesmente porque não interessa. O samaritano fez-se
próximo do homem caído, não fazendo diferença na sua ação se aquele homem
também se faria seu próximo. A bondade do samaritano já está demonstrada,
independente das ações de quem recebeu essa bondade.
Tudo o que acontece depois do ato de amor,
de bondade, já não é importante. O bem já está feito, tanto para quem o recebe como para quem o pratica.
Mas quantas vezes cobramos das
pessoas a quem de alguma forma ajudamos que elas sigam o caminho que nós é que
entendemos que seria o melhor para elas? Quantas vezes esperamos reconhecimento
e gratidão de forma a sermos nós mesmos os beneficiários de nossa própria
bondade? Quantas vezes nos comportamos como se os demais estivessem sempre nos
devendo algo? Ou julgamos pessoas que participam conosco de momentos especiais
em um encontro ou movimento e que talvez depois não seguem exatamente o mesmo
rumo que o nosso? Ou ainda, como o sacerdote e o levita escolhemos aqueles que
seriam mais ou menos dignos de nossas ações?
Devemos insistir nos convites, nos
chamados, nos esforços, mas nunca é demais refletir sobre o fato de que o único
comportamento sobre o qual realmente temos algum controle é o nosso próprio e
não exigir que as pessoas atendam as nossas expectativas ou depositar fardos
nos ombros de outros.
É necessário fazer a nossa parte e
seguir viagem.