segunda-feira, 11 de julho de 2022

A VOLTA DO BOM SAMARITANO

            

     

     Entre as muitas histórias contadas por Jesus está a Parábola do Bom Samaritano. Jesus a contou em resposta ao questionamento de um “mestre da lei” (que talvez estivesse mais interessado em ser liberado por Jesus do dever do amor em relação a alguém do que realmente em saber quem é o  próximo). Na parábola Jesus mostra que é nosso próximo qualquer pessoa a quem possamos de alguma maneira colaborar, contando sobre o samaritano que, vendo um homem caído no meio do seu caminho, sente compaixão, cuida de suas feridas, o transporta em seu próprio animal e arca com os custos de sua hospedagem em uma pensão. O detalhe é que antes do samaritano, um sacerdote e um levita já haviam se deparado com o homem caído mas seguiram adiante, “pelo outro lado”.

            A história nos leva a pensar sobre o levita e o sacerdote, cumpridores de seus deveres religiosos mas que não quiseram tocar um doente para não se tornarem impuros, enquanto o samaritano, originário de um povo que não era bem visto pelos judeus, se aproxima da pessoa necessitada e o ajuda, com suas próprias mãos e seus próprios recursos.

            É interessante observar que ele reconhece a necessidade do outro e prossegue em sua viagem. Podemos pensar que esse homem tinha também outros deveres, compromissos, precisava cuidar também da sua vida, não poderia largar tudo para cuidar do homem caído na estrada, mas fez o que suas condições permitiam e seguiu. Assim também deveríamos ser todos nós, mantendo atenção às necessidades dos que estão ao nosso redor mas ao mesmo tempo seguindo nossos trabalhos, cuidando de nossas famílias, não esquecendo de nossas próprias necessidades, ajudando e vivendo, dentro de uma normalidade, sendo quem somos, não sendo necessários grandes gestos de abandono de qualquer interesse pessoal a favor do outro, mas integrando o outro aos nossos interesses (“ao teu próximo como a ti mesmo”). Ou seja, não é necessário abandonar a própria viagem, mas também não podemos seguir “pelo outro lado”.

            Ouvindo a história surge a curiosidade sobre a volta do samaritano à pensão. Como foi recebido pelo homem a quem ajudou? Será que agora recuperado ele seria grato? Será que ele se apressaria em retribuir ou pagar ao samaritano pelos gastos que teve? Talvez se propusesse a acompanhar o samaritano a partir de então, para também ajudar outras pessoas com necessidades? Por outro lado, talvez fosse mal recebido, quem sabe o homem ajudado fosse também alguém preconceituoso que preferia não ter contato com um samaritano? Talvez recriminasse o seu benfeitor dizendo que queria morrer e que deveria ter sido deixado no caminho para isso? É possível que no retorno do samaritano o homem até já tivesse ido embora da pensão, não tendo sequer aguardado para dizer um muito obrigado e retornando ao mesmo caminho e perigos que o deixaram entre a vida e a morte anteriormente...

            Não sabemos, Jesus não continuou a história e não continuou simplesmente porque não interessa. O samaritano fez-se próximo do homem caído, não fazendo diferença na sua ação se aquele homem também se faria seu próximo. A bondade do samaritano já está demonstrada, independente das ações de quem recebeu essa bondade.

            Tudo o que acontece depois do ato de amor, de bondade, já não é importante. O bem já está feito, tanto para quem o recebe como para quem o pratica.

            Mas quantas vezes cobramos das pessoas a quem de alguma forma ajudamos que elas sigam o caminho que nós é que entendemos que seria o melhor para elas? Quantas vezes esperamos reconhecimento e gratidão de forma a sermos nós mesmos os beneficiários de nossa própria bondade? Quantas vezes nos comportamos como se os demais estivessem sempre nos devendo algo? Ou julgamos pessoas que participam conosco de momentos especiais em um encontro ou movimento e que talvez depois não seguem exatamente o mesmo rumo que o nosso? Ou ainda, como o sacerdote e o levita escolhemos aqueles que seriam mais ou menos dignos de nossas ações?

            Devemos insistir nos convites, nos chamados, nos esforços, mas nunca é demais refletir sobre o fato de que o único comportamento sobre o qual realmente temos algum controle é o nosso próprio e não exigir que as pessoas atendam as nossas expectativas ou depositar fardos nos ombros de outros.

            É necessário fazer a nossa parte e seguir viagem.


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