“Queres ser curado?”
Foi a pergunta que Jesus fez ao
paralítico às margens da piscina de Betesda. O doente primeiramente atribui sua
dificuldade ao fato de nunca ter alguém que o colocasse na piscina para ser
curado. Jesus então ordena: “Levanta-te, toma o teu leito, e anda”. E ele foi
curado[1].
Há alguns dias andei enfrentando um
pouco de deserto. A gente sabe que faz parte da vida uns momentos de dúvida,
altos e baixos, decepções, faltas... Mas apesar de sabermos, há vezes em que
não conseguimos assimilar e organizar os pensamentos com facilidade e fiquei um
tanto paralisada.
Talvez o maior susto foi um dia
que uma amiga comentou: “você já melhorou né? Tá com uma carinha melhor...”, e
eu percebi que eu não queria ter melhorado. Eu queria continuar triste, eu
queria continuar ruminando, eu queria, talvez, que continuassem se preocupando
comigo para, quem sabe, alguém resolver o que estava me incomodando.
Só que ninguém resolve.
Eu tenho certeza de que conto com
muitas pessoas que fariam de tudo para nunca me verem triste, mas há situações
em que ninguém pode fazer nada, a não ser eu.
Até que chega o ponto em que você
tem que encarar a pergunta: “Quer ser curado? Quer que isso passe? Ou vai
continuar esperando que alguém te jogue na piscina?”
Até que chega o ponto em que você
levanta, pega o leito e anda, porque não é culpa de ninguém se você ainda não
fez isso.
Acho interessante o detalhe do
paralítico levar o leito com ele. Ele não deixa o passado totalmente para trás,
ele não esquece. Mas acontece que
carregar o leito é bem diferente de passar o resto da vida deitado sobre ele.
Carregar o leito é entender que
certas dificuldades nunca nos abandonarão, é admitir vazios que serão nossa
companhia, ausências que não serão preenchidas, mas que mesmo assim é possível andar.
Há sim na vida acontecimentos e
sentimentos absolutamente sem sentido. Fatos não têm sentido. Pessoas dão
sentido aos fatos.
“É a maneira pela qual vivemos um
acontecimento que o vai transformar num sepulcro ou numa porta”.[2]
Façamos as pazes com a vida e andemos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário