Alguém que corre muito sem saber exatamente para onde, certamente é um fugitivo... resta saber: fugindo de que?
Muitas vezes a correria do dia a dia não nos permite parar um pouco e fazer as perguntas que realmente fazem a diferença e poderiam auxiliar no encontro de um sentido para a vida.
Assumimos tantos compromissos, horários marcados (academia, filhos, jantares, estudos, manicure, trabalho, cabelo, futebol, reuniões, festas, viagens...), quando nos damos conta: lá se foi mais uma semana, mais um ano somado a nossa idade... E com o passar deste tempo, o que construímos, o que estamos nos tornando?
Interessante lembrar dois conselhos dos gregos. O primeiro, inscrito no templo de Apolo e considerado profundamente por Sócrates: 'Conhece-te a ti mesmo'. E o segundo, escrito pelo poeta Píndaro: 'Torna-te o que és'.
Para que nos tornemos exatamente aquilo que somos é necessário primeiro ter a coragem de parar e olhar para nós mesmos, procurando nos conhecer.
Sobre este 'se encarar', são ilustrativas duas histórias, que pouco têm de infantis, e que relatam a busca de seus personagens por encontrar a própria identidade e ser fiéis a ela: O Rei Leão e O Patinho Feio.
No 1º conto encontramos Simba, um leãozinho acusado de ter matado o próprio pai, o bom e justo rei Mufasa. Isolado na floresta, ele vai esquecendo quem realmente é, até o dia em que vê seu reflexo na água e percebe em si a imagem do pai.
No segundo, vemos um cisne, que por ter sido criado entre outras aves, não tinha noção da beleza guardada nele, esperando para se revelar. Só se deu conta disto, quando observou os belíssimos cisnes voando e nadando e enfim olhou para o seu próprio reflexo na água, descobrindo que também ele é um belo cisne.
Observa-se então que a descoberta de quem somos passa por um caminho: é necessário observar alguém maior e melhor e então refletir, procurando em nós as semelhanças com uma versão melhor de nós mesmos.
Neste processo, importante auxílio nos fornece a religião, em sua função de re-ligar, ela nos religa a Alguém que é maior e melhor do que nós (é O maior e O melhor), mas com quem guardamos direta semelhança, uma vez que somos seus filhos. Desta forma, a religião também nos religa a nós mesmos, nos dá raízes, nos dá sentido.
A partir de quando Jesus Cristo se tornou plenamente homem, cada um de nós foi relembrado de que tem em si partículas divinas. Porém, encontrar e deixar que se manifestem tais partículas exige coragem para deixar a correria de lado, olhar verdadeiramente para dentro de si mesmo e refletir constantemente sobre que modelos pretendemos seguir, com quem ou o que pretendemos parecer.
Apenas nos dando o tempo necessário para olhar para nós mesmos e para Cristo é que deixaremos de nos comportar e deixar que nos tratem como patinhos feios, para assumir nossa real dignidade de cisnes!
Para completar tem ainda São Paulo dizendo aos Romanos (capítulo 8):
“Pois todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual clamamos: Aba! Pai! O Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus. E, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, contanto que soframos com ele, para que também com ele sejamos glorificados. Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada. Por isso, a criação aguarda ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus. Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis. Aliás, sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios. Que diremos depois disso? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas que por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas?”