Deus é grande demais para poder passar pelas portas do templo. Aliás, Ele nem cabe no templo, nem em qualquer catedral, igreja ou capela. Por causa disso, as pessoas só podiam crer que Ele morasse numa alta montanha distante, como o Sinai, ou mesmo na imensidão do céu.
Deus, porém, quis revelar-se, mostrar-se, chegar perto de suas criaturas, pois as amava. Apesar de sua desobediência, apesar de seu pecado, apesar de sua maldade, Deus, amava e ama profundamente as suas criaturas. Já não podia ver seu sofrimento, nem ouvir o seu clamor. Por isso, desceu. E desceu tanto que se foi revelando nas coisas fracas, frágeis, insignificantes.
Subitamente já não estava na alta montanha. Estava numa sarça, num pequeno arbusto que quase não se notava. Estava numa brisa leve, quase inaudível. Estava no chão do sofrimento, em meio a escravos e escravas de costas lanhadas pelos chicotes. Estava no deserto, caminhando com seu povo, por muito, muito tempo, até chegar na terra prometida.
Contudo, esse Deus queria chegar ainda mais perto das pessoas. Tão perto, a ponto de tornar-se um igual. Igual a quê? Igual ao ser humano mais sofrido e triste que pudesse existir.
E, então, se fez carne! Armou sua tenda no meio de nós. Fez-se imagem de ser humano.
Escolheu uma jovem mulher, chamada Maria, para vir ao mundo através dela. Pobre Maria! Como explicar que estava grávida? Quem haveria de acreditar nela?
Pobre José! Sentiu-se traído, quis fugir. Como acreditar no que o anjo lhe dizia? Que iriam dizer dele? Que iriam dizer daquela pobre criança?
E agora estavam ali, naquela estrebaria fedorenta. Não tinham encontrado lugar. Ninguém lhes dera pousada. Em meio a moscas e esterco, a criança havia nascido. Nem cama, bem berço! Um cocho de palha babada pelos animais. Ali estava agora deitada a criança, tão frágil. E aqueles pastores sujos e maltrapilhos em volta dela, com os olhos brilhantes, como se tivessem visto anjos.
No meio de toda aquela miséria, porém, havia algo de belo. Uma profunda paz tomava conta de tudo e de todos. Era como se Deus estivesse ali. Deus conosco, na miséria do mundo. Deus conosco, num cocho babado. Deus conosco, cercado de moscas e de esterco. Emanuel!
Mais tarde haveria uma cruz, numa cinzenta tarde de sexta-feira. Pregado nela, alguém gritava desesperado: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”. E morreu, frágil, banhado em sangue e dores. Emanuel!
Na manjedoura e na cruz, Emanuel, Deus conosco. Para sempre, Deus conosco. Grande demais para caber num templo. Pequeno e frágil como uma criança recém-nascida.
É difícil entender um Deus assim. É difícil compreender um amor tão grande. Mas é assim o nosso Deus, Emanuel. O seu poder se torna forte nas coisas fracas e pequenas. Ele está presente nas pessoas fracas e pequenas, nas crianças, nos pobres, nos sofridos. Solidário.
Assim é Natal: o poder de Deus na fragilidade do mundo!
Por isso, glória a Deus nas maiores alturas, e paz, paz na terra, paz entre os seres humanos a quem Ele tanto ama.
Emanuel.
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